Notícia policial não tem dono


Notícia policial não tem dono

A cobertura jornalística de ocorrências policiais é, antes de tudo, um direito da sociedade e um dever dos veículos de imprensa. 

Transformá-la em território restrito, marcado por exclusividades não declaradas ou acordos tácitos, significa dar espaço ao avanço de um poder paralelo — não o da criminalidade apenas, mas o da manipulação da informação.

Quando a divulgação de fatos policiais é negada a todos e se concentra em um único meio de comunicação, o que se fortalece não é a segurança pública nem o direito à informação. 

Fortalece-se a audiência seletiva, o monopólio narrativo e, muitas vezes, os interesses de grupos que não representam o espírito da lei nem os propósitos das instituições de segurança.

Essa concentração — especialmente quando convertida em capital político — distorce o papel da imprensa. 

A notícia, em vez de instrumento de transparência, torna-se arma contra adversários, usada seletivamente conforme convém a agendas pessoais ou eleitorais. 

O jornalismo vira palanque. 

A segurança vira espetáculo.

Mais grave ainda é quando o desejo por audiência atropela o sigilo e compromete investigações. 

O vazamento de informações privilegiadas, por motivos alheios ao interesse público, enfraquece o trabalho dos investigadores e põe em risco operações inteiras. Se isso se tornar lugar comum, o resultado será o enfraquecimento das instituições públicas, abrindo espaço para que agentes fora da estrutura do estado comecem a exercer um poder paralelo. 

Vazar informações sigilosas ou troca-las por uma centena de curtidas em rede social não é apenas inocente imprudência: é sabotagem. O ovo da serpente.

Vazamento de informações de segurança pode comprometer, inclusive, a vida de investigadores e policiais.

E, frente a isso, talvez — apenas talvez — seja hora de as autoridades competentes reagirem com firmeza. A solução não exige esforços hercúleos: basta transparência e igualdade de acesso e tratamento à mídia. 

A distribuição regular de informações de boletins de ocorrência registrados e o amplo acesso aos dados relevantes de forma igualitária a todos os veículos de imprensa devem ser normas, não exceções. 

Nem se alegue a LGPD como impedimento, posto que as informações podem ser distribuídas respeitando a lei. 

O que hoje é mercado e privilégio em São José do Rio Pardo precisa voltar a ser serviço público e direito de todos na cidade.

Quando se admite o corporativismo como escudo para justificar práticas questionáveis, toda a estrutura de segurança perde. 

É inadmissível fazer ouvidos moucos à troca, feita às claras, de segurança pública por alguns cliques ou curtidas em redes sociais que favorecem parceiro pessoal de uns poucos agentes públicos.

Perdem os bons profissionais da polícia, que têm seu trabalho confundido com o de alguns poucos. 

Perde a imprensa séria, que busca a verdade com responsabilidade. 

E, acima de tudo, perde a sociedade, que merece ser bem informada, sem distorções nem interesses ocultos.

Notícias policiais não têm dono.

E segurança pública não se negocia.




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