Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Beata Nhá Chica


Beata Nhá Chica

Celebramos no dia 14 de junho a memória litúrgica da Beata Nhá Chica, uma beata genuinamente brasileira. Ela nasceu e viveu aqui, a exemplo de tantos outros. Rezemos, inclusive, para que, dentro em breve, seja comprovado o segundo milagre e a Beata Nhá Chica seja logo canonizada.

Nhá Chica sempre optou por uma vida humilde. Era pobre, filha de escravizados e ajudava os pobres, para que nunca faltasse nada para ela e para os irmãos de comunidade. Viveu com amor a fidelidade ao Evangelho de Cristo e ao mandamento do amor ao próximo. Além disso, era temente a Deus, austera e muito piedosa. As pessoas costumavam procurá-la, e ela dava conselhos sobre como viver retamente e buscar a santidade no dia a dia. Nhá Chica nasceu no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes, em São João del-Rei, e viveu as virtudes cristãs cotidianas na cidade de Baependi, dentro da circunscrição eclesiástica da Diocese da Campanha, MG.

A Beata Nhá Chica nos ensina que não precisamos ser padres, freiras, religiosos ou religiosas para dar bons conselhos. Basta que sejamos humildes, que tenhamos uma vida de oração e sejamos tementes a Deus. Além de tudo, é preciso que transmitamos o amor de Deus ao próximo e acolhamos a todos sem distinção. Todos nós, a partir do batismo, somos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus e convidados a anunciar a Palavra de Deus aos outros.

Nhá Chica não possuía muito estudo; como dissemos, era muito humilde. Mas aconselhava as pessoas com base naquilo que escutava e meditava da Palavra de Deus, e no que ouvia de Nossa Senhora em seus momentos de oração. Era tão iluminada por Deus que, ao ver uma pessoa se aproximar, já percebia sua necessidade e a aconselhava. Com o tempo, ficou tão conhecida que sua fama se espalhou, e as pessoas faziam fila para ouvir seus conselhos.

Seu nome de batismo era Francisca de Paula de Jesus, mas ficou conhecida como Nhá Chica. Ela nasceu em Santo Antônio do Rio das Mortes, distrito de São João del-Rei (MG), e foi batizada em 26 de abril de 1810. Os documentos que atestam sua existência são seu atestado de óbito, um testamento e um inventário do irmão da beata. No testamento, ela pedia que fossem rezadas missas pelo irmão e pela mãe.

Aos oito anos de idade, mudou-se com sua mãe, Isabel Maria, e com seu irmão, Theotônio Pereira do Amaral, quatro anos mais velho, para Baependi, cidade do interior de Minas Gerais. Sua mãe faleceu pouco tempo depois, quando Nhá Chica tinha dez anos. Assim, ela e o irmão passaram a viver sozinhos. Ela nunca se casou e passou a viver reclusa em sua casa, dedicada à oração e ao aconselhamento. Ficou muito conhecida, sobretudo por dar conselhos, e a “fama” de santidade foi crescendo.

A Beata Nhá Chica já tinha fama de santidade em vida, e logo após sua morte as pessoas já a proclamavam santa. No entanto, como é de praxe, a Igreja segue todo o processo necessário, proclamando alguém santo apenas após a investigação da vida, da comprovação das virtudes e existência de milagres. Nhá Chica era tão humilde que não se vangloriava da fama de santidade; apenas seguia sua vida de oração e aconselhamento.

Ela afirmava que Nossa Senhora lhe indicava o que devia dizer. Chamava-a, carinhosamente, de “Minha Sinhá”, que significa “minha Senhora”. Através da oração, escutava Nossa Senhora, e como serva humilde ouvia o que Ela lhe dizia. A exemplo da Mãe de Deus, Nhá Chica exaltava a grandeza do Senhor e tudo o que Ele fazia em favor do seu povo. Agradecia sempre a Deus pelo dom recebido e pedia forças para continuar sua missão.

Desde muito cedo, Nhá Chica se viu “obrigada” a morar sozinha, apenas com o irmão, por causa da morte da mãe. Ambos cresceram sob os cuidados e proteção de Nossa Senhora, que foi, pouco a pouco, conquistando o coração de Nhá Chica. Conforme ela dizia, Nossa Senhora se tornara sua amiga.

Conhecida por todos como Nhá Chica, recebia em sua casa todos os que buscavam conselhos, sem fazer distinção. Atendia tanto os mais pobres quanto os mais ricos. Segundo relatos, inclusive conselheiros do Império, que visitavam a região por causa das Águas de Caxambu (MG), passavam por Baependi para ouvir a Beata. Com seu jeito simples e sua santidade, todos gostavam de ouvi-la.

Theotônio, irmão de Nhá Chica, casou-se, mas não deixou herdeiros. Quando faleceu, em 1861, deixou toda sua herança para Nhá Chica. Em 1865, ela usou esse dinheiro para construir uma capela ao lado de sua casa, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, de quem era devota fervorosa. O restante do patrimônio, ela doou aos pobres.

Nhá Chica atendia a todos gratuitamente, com o único propósito de ajudar. Rezava por quem a procurava, dava conselhos e transmitia palavras de conforto e esperança. Muitos não tomavam decisões importantes sem antes consultá-la.

O único dia em que não atendia era a sexta-feira. Nesse dia, lavava suas roupas e se dedicava à oração e à penitência. Fazia isso, em primeiro lugar, porque precisava se “alimentar espiritualmente” para poder ajudar os outros; e, em segundo, porque nas sextas-feiras recordamos a paixão e morte de Jesus em vista da salvação de todos nós.

Nhá Chica faleceu em 14 de junho de 1895, com cerca de oitenta e cinco anos. Um ano antes de sua morte, em 1894, um médico carioca cético, estudioso de hidrologia, chamado Dr. Henrique Mona, passou por Caxambu para estudar as águas da cidade. Ao ouvir falar de Nhá Chica, mesmo sem religião, resolveu visitá-la e registrou toda a conversa em seu livro Caxambu. Esse é um dos principais registros que se tem da beata.

O médico saiu da entrevista reconhecendo a santidade de Nhá Chica e, inclusive, contratou um fotógrafo para tirar a única foto que se tem dela. Um ano depois, ela faleceu. Em 13 de maio de 1888, dia da Abolição da Escravatura, mesmo vivendo reclusa, saiu de casa para comemorar com o povo. Nunca aceitava nada em troca de seus conselhos, presentes ou mimos. Dizia que tudo acontecia porque rezava com fé.

A capela que Nhá Chica mandou construir em honra a Nossa Senhora da Conceição foi demolida em 1940. No mesmo local, foi erguido um santuário, onde estão também seus restos mortais. Em 1954, a Igreja de Nhá Chica — hoje “Santuário Nossa Senhora da Conceição” — foi confiada às Irmãs Franciscanas do Senhor. Ao lado do santuário, existe uma obra social para crianças e adolescentes necessitados, mantida por devotos e benfeitores.

Em 1989, Dom Aloísio Roque Oppermann, SCJ, então bispo coadjutor da Diocese da Campanha, determinou a formação de uma comissão em prol da beatificação de Nhá Chica, processo concluído em 2012, durante o episcopado de Dom Frei Diamantino Prata de Carvalho, OFM, com a assinatura do decreto pelo Papa Bento XVI. Incontáveis graças são atribuídas à leiga, considerada Mãe dos pobres de Baependi. Foi beatificada em 4 de maio de 2013, em Baependi, numa cerimônia presidida pelo Cardeal Ângelo Amato, SDB, enviado pelo Papa Francisco.

Como ocorre com os santos, ficou estabelecida sua celebração no dia de sua morte, 14 de junho.

Celebremos com fé e piedade a memória litúrgica da Beata Nhá Chica. Que ela interceda por cada um de nós, escute os nossos rogos, nos dê conselhos e, do céu, nos ajude a amar uns aos outros sem distinção de raça, cor ou condição social. Continuemos em oração para que, em breve, ela seja proclamada santa pela Igreja.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ



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