O abismo entre a política virtual e a responsabilidade


O abismo entre a política virtual e a responsabilidade

Vivemos tempos em que a política, antes forjada no corpo a corpo com o eleitor, nas discussões em plenário e na elaboração de propostas concretas, vem sendo moldada por performances nas redes sociais. 

Esse fenômeno, embora não seja novo, tem ganhado contornos mais evidentes — e, por vezes, preocupantes.

O deputado federal Nicolas Ferreira é um exemplo emblemático de como a comunicação digital pode alavancar candidaturas. 

Ele soube explorar o ambiente virtual para se projetar, mobilizar seguidores e se eleger como representante de uma direita combativa. 

Após a eleição, ao menos assumiu a postura que prometeu defender: tem presença ativa nas discussões políticas e legislativas, com todas as críticas ou elogios que isso possa ensejar.

Em São José do Rio Pardo, no entanto, vivenciamos um caso distinto. 

A vereadora Mafepi também ascendeu sob o rótulo de “direita”, mas sua eleição se deu por uma margem apertada, garantida mais pela composição da chapa do que por expressiva votação individual. 

Desde então, sua atuação política tem sido majoritariamente virtual: vídeos nas redes sociais, postagens críticas, “denúncias” que não avançam para o debate real ou a produção legislativa efetiva.

Recentemente, chegou a insinuar uma campanha contra médicos da cidade, atitude que soou mais como ataque do que apuração ou proposta, e da qual recuou logo após a primeira reação contrária. 

Na tribuna da Câmara, o contraste com sua persona digital é gritante: silêncio frequente, dificuldade em discursar, leitura ensaiada e ausência de respostas quando confrontada. 

Fica a impressão de que atua por interpostas pessoas — como se sua função fosse apenas ecoar ideias que não domina plenamente.

Esse descompasso entre imagem e substância cobra um preço. 

O eleitorado pode ser atraído por um discurso firme em ano eleitoral, mas espera coerência, preparo e atuação prática ao longo do mandato. 

A política exige mais que postagens inflamadas: requer estudo, diálogo, proposições viáveis, coragem para sustentar o que se defende e humildade para reconhecer limites.

Se há algo que a história recente tem ensinado é que o mandato conquistado pelas redes sociais não costuma se sustentar apenas nelas. 

Quem não traduz visibilidade em trabalho concreto raramente é premiado nas urnas mais de uma vez.




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