Dom Abade Paulo De Martini fala sobre Corpus Christi - republicação

Quem conhece Padre Paulo pode, inicialmente, até se enganar pelo jeito simples e humilde..
Com a fala mansa, pausada e simples, e o hábito monástico vem um homem muito inteligente, sábio, seguro de seu conhecimento e da sua fé.
Como se vê na imagem feita por DEMOCRATA e que ilustra essa reportagem na internet, diariamente padre Paulo faz diversas transmissões por redes sociais.
Convivendo e apoiados em livros antigos (a imagem não deixa de ter um forte simbolismo), celulares modernos, eficientes mas não de luxo, suficientes para permitir que a mensagem da fé seja entregue através dos novos meios de comunicação.
O antigo e o moderno convivem.
Pronto a cumprir a diretriz deixada por S. Pedro (“sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3:15), padre Paulo comenta pela internet diariamente a regra de São Bento e transmite serviços religiosos para todo o mundo, através da internet.
Quem quiser acompanhar, basta clicar nos links abaixo:
Quem quiser conhecer a história do Mosteiro em São José do Rio Pardo, pode clicar AQUI e assistir um dos vídeos do Dom Paulo DeMartini em que ele conta com detalhes a história deste que é um patrimônio da cidade.
A entrevista
Abade atual do Mosteiro, reeleito e reempossado no cargo há três meses e é pároco da paróquia Santuário de São Roque de São José do Rio Pardo, o querido e conhecido Padre Paulo falou ao DEMOCRATA sobre a celebração do dia de Corpus Christi, sua origem, seu significado.
Padre Paulo, para além da simplicidade e simpatia notáveis, mostrou-se ser an-tenado nas novas tecnologias. Marcamos a entrevista para sexta-feira, as 9h da manhã, em seu escritório ane-xo ao Santuário de São Roque.
Cabe uma anotação: padre Paulo é um dos mais acessíveis padres de nossa cidade, sem demérito por qualquer outro. Mesmo com seu dia cheio de afazeres e obrigações, até pelo feriado religioso que motivou a entrevista, encontrou tempo para atender a reportagem.
Marcado para as 9h horas, pontualmente nos atendeu e concedeu a entrevista que entregamos para você, leitor do DEMOCRATA.
DEMOCRATA: Padre, como é calculada a data do dia santo de Corpus Christi?
Padre Paulo: A data é móvel, calculada 10 dias após o domingo de pentecostes, final do tempo pascal. Essa data veio através de uma Monja, na Bélgica, Juliana de Cornillon, que no século XII fez toda uma devoção ao Santíssimo Corpo de Cristo no seu mosteiro na Bélgica e isso tornou-se comum na sua Dioceses e, depois, o Papa promul-gou para toda a igreja. E é muito louvável que essa traição continue por isso que então é entre o Pentecostes e o Sagrado Coração de Jesus que é na próxima sexta-feira, na outra semana.
DEMOCRATA: qual o significado do dia santo de Corpus Christi para os católicos?
Padre Paulo: O Senhor, quando subiu aos céus, ele quis então permanecer de maneira muito notável. Não ficou numa pedra ou numa cidade ou numa igreja, mas se tornou um alimento: “isso é meu corpo, isso é meu sangue”: corpo e sangue. Todo alimento se estraga, toda bebida azeda, por isso que a cada celebração eucarísti-ca da missa se atualiza esse mistério do corpo e do sangue de Cristo. Então nós adora-mos jesus, presente na Eucaristia, Em qualquer uma das espécies ali está Jesus por intei-ro, seu corpo e seu sangue, sua alma e sua divindade. “quem comer desse pão viverá eternamente”, disse Ele.
DEMOCRATA: Qual a ligação entre os enfeites nas ruas e a fé, subjacente ao dia santo?
Padre Paulo: A tradição ibérica, dos países que colonizaram o nosso país, e também a Itália, trouxe esse belo costume de enfeitar as ruas, as ruas pelas quais passamos indo ao trabalho, ao descanso, à escola, indo para a igreja, para mostrar que o Senhor habita em nosso meio. E os símbolos eucarísticos, então aqui na nossa paróquia do Santuário de São Roque geralmente sempre temos pelo menos três grandes enfoques. Primeiro, sim, a eucaristia. Então o cálice, a hóstia, a Bíblia. Depois, a campanha da fraternidade, que neste ano foi a fome, então toda a questão sobre a miséria a fome... ...e a terceira o ano vo-cacional no Brasil, então havia cartazes lembrando a vocação ao matrimônio, a voca-ção sacerdotal, a vocação religiosa, a vocação para ao mosteiro como nós temos aqui. Então é muito bonito esse costume de se enfeitar as ruas. Mostra, então, também o caráter artístico das pessoas que através da sua arte expressam a sua devoção a sua fé.
DEMOCRATA: Como a igreja tem visto e enfrentado esse movimento atual que traz modernidade, traz inclusão social, mas também princípios que se levantam contra dogmas da igreja, que vão contra a fé Cristã. Como lidar com isso?
Padre Paulo: Cada vez mais ser cristão se torna um grande desafio. Porque hoje vemos um mundo, poder público, ideologias que vão invadindo os próprios conceitos que são mais do que abalizados, mais que inegociáveis. Nós, como Cristãos, e nós como monges procuramos estar sempre fiéis á sã doutrina, a moral, aos bons costumes. Então o mundo tem que mudar a partir do evangelho, e não o evangelho a partir do mundo. Ficamos até um pouco apreensivos, sim, diante dessas situações atuais no mundo, em que se mistura muito a fé e a política. Não que não estejam ligados, mas precisamos da razão iluminada pela fé. Ser presença no mundo, mas sem deixar com que o mundo invada o nosso campo. Para que possamos preservar a vida, respeitar, sim, as diferenças, mas sem dar aquele sentido muito exacerbado em que as vezes as pessoas acabam perdendo muito os valores da fé. É uma pena que, hoje em dia, por conta de toda aquela questão de sincretismo, ecumenismo, acabam então achando que tudo é, assim, fica indiferente. Já dizia o Papa, falecido, Bento XVI, o novo martírio hoje não é o martírio do sangue, mas a indiferença, é, enfim, os questionamentos não bem fundados. Queira Deus que nós passando entre as coisas que passam estejamos no mundo, mas sem perder aqueles valores eternos que são inegociáveis, inafiançáveis.
DEMOCRATA: Suas considerações finais...
Padre Paulo: A todos aqueles que nos acompanham, que possamos então nesses dias refletir sobre os valores eternos. Sim, temos de trabalhar pelo pão de cada dia, honrar os nossos compromissos e tudo. Porém nunca se esquecer dos valores maiores. Então expressando nossa fé através da nossa conduta, através da nossa participação na vida da igreja. E procurando fazer deste mundo um mundo mais solidário, mais fraterno. E assim como a procissão de Corpus Christi passou pelas grandes ruas de nossas cidades, que possamos fazer com que entre em nosso coração. Não colocando tanto os tapetes, as flores, mas abrindo nosso coração para que ali possa a palavra de Deus repercutir, reverberar, e para que nosso falar, nosso agir e nosso pensar seja sempre também per-meado pela Graça de Deus. Deus abençoe a todos e a todo esse meio de comunicação, muito louvável.
A procissão: o significado
Conversamos com o Irmão Roger, da Abadia Nossa Senhora de São Bernardo, conversou com a reportagem sobre o significado da procissão. Ele tem em 38 anos e é noviço, natural do Rio Grande do Sul.
DEMOCRATA: Quanto tempo demora a preparação para o Corpus Christi?
Ir.Roger: De maneira espiritual, nós levamos cerca de um ano. Entre um e outro ano, preparando as crianças, catequistas, representantes de pastorais e atividades, já pensando nas ideias, seja de tapete, seja de como vai ser a celebração. Um mês antes, de maneira prática, permissão na prefeitura, organização da parte mais prática mesmo, organizativa. O material, trazer. Para montar os tapetes, 24h.
DEMOCRATA: Qual o efeito prático na vida dos fiéis da procissão de Corpus Christi?
Ir. Roger: Dentro da espiritualidade de Corpus Christi, quando Jesus sai às ruas, é para lembrar, no mesmo momento em que Jesus viveu no meio de nós ele saía às ruas, tocava nas pessoas, e dava o carinho particular de Deus para elas. Então Corpus Christi para nós hoje representa esse passeio de Jesus pelas ruas. Claro, é um passeio curto.
Mas espiritualmente ele nos ajuda a entender um Cristo que sai para ver as casas, para visitar as comunidades. Nossos irmãos, também. Nós nos solidarizamos com aqueles que passam frio, passam fome. Então Corpus Christi, espiritualmente é um convite para o gesto concreto. Ver um Cristo na rua e ser um Cristo na vida dos que precisam.
Publicado originalmente no site do jornal em 11/06/2023
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