Os Riscos de Óculos Corretivos sem Exame Oftalmológico Completo

A procura por lentes corretivas diretamente em óticas ou com optometristas pode parecer prática e econômica, mas envolve sérios riscos à saúde ocular.
Sem um exame médico oftalmológico completo, condições graves podem passar despercebidas e ser mascaradas pela simples correção de grau, comprometendo a visão a longo prazo.
1. Exame de Refração vs. Exame Oftalmológico
Exame de refração: procedimento realizado por optometristas ou óticas que determina apenas o grau de correção visual (miopia, hipermetropia, astigmatismo).
Exame médico oftalmológico completo
Conduzido por um oftalmologista, inclui avaliação da saúde geral do olho — pressão intraocular, fundo de olho, motilidade ocular, avaliação de córnea e retina — e pode detectar patologias silenciosas antes que causem dano irreversível.
Embora a refração seja essencial para adaptar lentes, não substitui o diagnóstico precoce de doenças que não manifestam sintomas visuais iniciais.
2. Doenças que podem ser mascaradas
Glaucoma
Caracteriza-se pelo aumento da pressão intraocular e lesão progressiva do nervo óptico.
Até 50% dos casos podem não apresentar sintomas até estágio avançado. Lentes corretivas não alteram a pressão e retardam o diagnóstico;
Retinopatia Diabética
Danos aos vasos da retina causados pela diabetes.
Pode evoluir sem alteração significativa no grau óptico, mas leva à perda de visão se não tratada precocemente;
Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI)
Afeta a parte central da retina, prejudicando a visão de detalhes.
Correção de grau normal não impede a atrofia macular nem identifica lesões iniciais;
Tumores Intraoculares
Neoplasias como melanoma de coroide podem manifestar sinais sutis (ponto cego, mudanças de pupila).
Podem ser detectados em exame de fundo de olho, não em simples refração.
Ceratocone
Afinamento da córnea que causa distorção progressiva da imagem.
Diagnóstico tardio limita opções terapêuticas, como cross-linking corneano, preservando menos da visão;
3. Casos e Estatísticas
Em investigação publicada no Review of Optometry, um paciente com glaucoma e estrabismo foi corretamente diagnosticado por oftalmologistas, mas em 41 consultas com optometristas recebeu apenas prescrição de óculos, sem identificação das doenças;
A American Academy of Ophthalmology alerta que 80% da cegueira global é evitável, desde que conduzidos exames completos periódicos (pelo menos anuais, conforme faixa etária e fatores de risco);
4. Consequências a Longo Prazo
Perda irreversível de visão: sem tratamento precoce, condições como glaucoma e retinopatia podem levar à cegueira.
Tratamentos mais invasivos: diagnóstico tardio muitas vezes exige cirurgias complexas, em vez de terapias clínicas menos agressivas.
Qualidade de vida reduzida: limitações visuais podem afetar autonomia, mobilidade e desempenho profissional.
5. Recomendações
Consulta anual ou bienal com oftalmologista, mesmo sem queixas visuais.
Exame completo: inclua tonometria (pressão ocular), biomicroscopia de lâmpada de fenda e oftalmoscopia de fundo de olho.
Procura por sintomas indiretos: dor ocular, flashes de luz, halos, cefaleia ou histórico familiar de doenças oculares.
Desconfiança de “promoções” de grau em óticas ou serviços de refração móvel sem avaliação médica.
A correção por lentes, sem o exame médico, pode esconder doenças graves e causar perda da visão. Optometristas não podem realizar exames, diagnosticar doenças dos olhos ou prescrever medicamentos.
A simples adaptação de lentes corretivas, sem a avaliação médica especializada, pode ocultar doenças graves e comprometer a visão de forma irreversível.
Prevenir cegueira e preservar a saúde ocular dependem de exames oftalmológicos completos, realizados por oftalmologistas, que vão muito além da simples mensuração de graus.
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