Márcio Chaves
A Ilusão da Inteligência Artificial: Por trás da fluência, a opacidade dos algoritmos

O artigo publicado na The Atlantic questiona o mito central da IA, que aborda a crença de que sistemas como ChatGPT ou Claude realmente “pensam” ou compreendem o mundo.
A partir de reflexões sobre os livros Empire of AI e The AI Con, o autor Tyler Austin Harper argumenta que a sociedade, influenciada pelo marketing das big techs, passou a enxergar fluência linguística como sinônimo de cognição.
Mas, na prática, esses modelos apenas reproduzem padrões estatísticos de linguagem, sem possuir consciência, intenção ou entendimento real.
Isso gera uma falsa sensação de inteligência, amplamente explorada por empresas que se beneficiam do desconhecimento técnico da maioria das pessoas.
O texto também destaca como essa ilusão serve a interesses corporativos e políticos, alimentando expectativas exageradas sobre o potencial da IA e desviando o debate de questões essenciais, como precarização do trabalho, exploração de mão de obra barata e centralização de poder em poucas empresas.
Modelos de linguagem são apresentados como ferramentas neutras, mas sua produção envolve custos sociais e ambientais elevados, além de dependência de dados e decisões opacas. E mais do que isso: podem interferir em escolhas de vieses políticos e, se mal utilizadas, passar a conduzir escolhas das pessoas. E, claramente, há interesses potentes por trás de todo este mecanismo.
Ao venderem essas IAs como entidades quase-humanas, as empresas criam um ambiente em que o questionamento técnico e ético se torna mais difícil, e em que regulação eficaz é constantemente adiada sob o pretexto de “não frear a inovação”.
Por fim, Harper defende que a principal ameaça não é a IA em si, mas o analfabetismo em torno dela.
Se a sociedade não entende como a IA funciona, quem a constrói, e com quais propósitos, torna-se impossível fazer escolhas políticas e regulatórias responsáveis.
Em vez de se maravilhar com máquinas que escrevem poemas, é necessário perguntar quem está se beneficiando com essa tecnologia, e às custas de quem.
A crítica de fundo é clara: enquanto a narrativa dominante idolatra máquinas que “sabem tudo”, estamos nos afastando de um debate público realista, informado e democrático sobre o futuro da inteligência artificial.
Márcio Chaves traz a experiência da advocacia por 30 anos e, há 13 anos trabalha com comunicação. Inicialmente com o blog TRANSPARÊNCIA, em redes sociais. Hoje é editor do DEMOCRATA - jornal e site. Entusiasta da parentalidade, traz questionamentos sobre as intrincadas redes interpessoais que compõe a vida privada contemporânea.
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