Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
12º Domingo do Tempo Comum
“O Cristo de Deus” (Lc 9,20)

Celebramos neste domingo o décimo segundo do Tempo Comum durante o ano. No último dia 8 de junho, encerramos o Tempo Pascal com a celebração de Pentecostes e retomamos o Tempo Comum. No domingo passado, dentro da celebração da 11ª Semana do Tempo Comum, celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade. A partir de hoje, retomamos as celebrações dominicais próprias desse tempo.
O Tempo Comum tem, ao todo, 34 semanas. É o período litúrgico mais extenso da Igreja. Ao longo desse tempo, acompanhamos Jesus em sua vida pública, anunciando o Reino de Deus. A cor litúrgica predominante é o verde, que significa esperança — ou seja, a esperança na vinda do Reino de Deus anunciada por Jesus. O Tempo Comum é dividido em duas partes: a primeira vai até o início da Quaresma, na terça-feira de Carnaval; e a segunda parte se dá após Pentecostes, sendo retomada na semana passada.
Este mês de junho, de maneira especial, é importante para a Igreja, com diversas celebrações de santos significativos. No dia 13 de junho celebramos Santo Antônio; celebraremos, na próxima terça-feira, São João Batista; e, no dia 29 — próximo domingo, inclusive —, celebraremos São Pedro e São Paulo. Além disso, na última quinta-feira, celebramos a Solenidade de Corpus Christi. Desse modo, a vida litúrgica da Igreja segue o seu fluxo e, em cada momento celebrativo, o mistério central é Jesus Cristo. Atualizamos, em cada celebração, o mistério de sua paixão, morte e ressurreição.
Por isso, meus irmãos, participem, junto com suas famílias, das celebrações dominicais; comunguem da mesa da Palavra e da Eucaristia, e que, por meio da Eucaristia, encontrem forças para enfrentar mais uma semana de trabalho e estudos. Família que reza unida permanece unida. Além disso, a família é a Igreja doméstica. Por isso, participem da missa dominical e ajudem, também, em suas comunidades, em alguma pastoral. Somos convidados por Jesus a sermos discípulos e missionários, saindo pelo mundo para anunciar, nos dias de hoje, o Reino de Deus que Ele anunciou.
Meus irmãos, a Liturgia da Palavra deste domingo fala da identidade de Deus, ou seja, de como Deus se revela ao povo por meio dos profetas, no Antigo Testamento, e, depois, por meio de Jesus, no Novo Testamento. Nos dias de hoje, Deus deseja se revelar a nós e quer que sejamos sinceros com Ele, respondendo ao seu chamado de todo o coração. Jesus perguntou aos discípulos quem Ele era para eles, e hoje pergunta a cada um de nós, querendo que respondamos de todo o coração: “Tu és o Filho de Deus.” Reconheçamos Jesus como o Filho de Deus e, sobretudo, reconheçamo-Lo na Eucaristia. A partir da comunhão eucarística, amemos os nossos irmãos.
A primeira leitura deste domingo é da profecia de Zacarias (Zc 12,10–11; 13,1). Deus se revela por meio do profeta Zacarias, dizendo que derramará sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de oração, e que eles olharão para Deus. Arrepender-se-ão de todo o mal que fizeram e de quem feriram de morte, e verão brotar uma torrente de graças. O povo de Israel rompeu a aliança com Deus, não foi fiel ao tratado que o Senhor fez com ele, acabou sendo exilado para uma terra estrangeira. No entanto, Deus resgata esse povo do exílio e promete salvá-lo. Deus ensina o povo de Israel a resolver os problemas por meio do diálogo e não através das guerras. Ou seja, em outras palavras, ensina-nos a amar o próximo, conforme Jesus ensinaria depois.
O salmo responsorial é o 62(63), que diz em seu refrão: “A minh’alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus!” Devemos sempre buscar a Deus — não apenas nos momentos difíceis, mas também nos bons. Devemos crer no Deus único e verdadeiro, e não criar deuses para nós. Devemos desejar estar sempre na presença de Deus e buscá-Lo dia após dia.
A segunda leitura deste domingo é da carta de São Paulo aos Gálatas (Gl 3,26–29): “Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.” Pelo nosso batismo, tornamo-nos filhos de Deus e irmãos de Jesus. Somos chamados a ser sacerdotes, profetas e reis. A partir do batismo, revestimo-nos de Cristo. Paulo diz à comunidade que já não importa mais ser judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos são um só em Cristo Jesus. Todos os batizados são herdeiros da promessa — promessa essa que se concretizará na vida eterna.
O Evangelho é de Lucas (Lc 9,18–24). Esse trecho relata que Jesus estava rezando num lugar retirado, como costumava fazer. Todos nós precisamos de momentos a sós com Deus para encontrar forças para continuar a missão — com Jesus não era diferente. Ele sentiu no coração o desejo de perguntar aos discípulos quem Ele era para eles. Na verdade, Jesus pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” É claro que Ele não queria que os discípulos repetissem o que as pessoas diziam, mas que dessem uma resposta pessoal, pois conviviam com Ele diariamente.
Eles começaram a dizer que uns o consideravam João Batista, outros, Elias; e outros ainda, algum dos profetas que ressuscitara. Então Jesus indaga: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro responde: “Tu és o Cristo de Deus.”
Essa era a resposta que Jesus queria ouvir dos discípulos, pois eles tinham o conhecimento necessário para dá-la. Essa resposta, Ele também quer ouvir de nós. Mas só será possível oferecê-la verdadeiramente com os joelhos no chão, por meio da oração, criando intimidade com o Senhor. Somente na intimidade com Deus, nos momentos a sós com Ele, poderemos reconhecer que Jesus é o Cristo de Deus.
Jesus proíbe severamente que os discípulos contem isso a alguém, e revela a eles tudo o que iria acontecer consigo. E afirma: se quisessem continuar a segui-Lo, deveriam tomar a cruz de cada dia. O caminho do discípulo de Jesus não é apenas de glórias: encontraremos dificuldades. Nem sempre é fácil, mas com a graça de Deus, ele se torna mais leve.
Celebremos com alegria este 12º Domingo do Tempo Comum, e sejamos fiéis no seguimento a Cristo. Tenhamos a coragem de tomar a nossa cruz diária e vencer os obstáculos que possam surgir. Coloquemo-nos diante de Deus e rezemos para que Ele nos revele que Jesus é o Cristo, o seu Enviado.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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